O Iluminismo, com sua ênfase na razão, na ordem, na clareza e no universalismo, buscou iluminar o mundo e a sociedade através da luz da lógica e da ciência. Paralelamente, o Neoclassicismo, influenciado por esses ideais, voltou-se para a antiguidade greco-romana em busca de modelos de perfeição formal, disciplina e regras estritas de composição.
Essa era da razão e da norma, embora tenha trazido avanços significativos, gerou um sentimento de insatisfação em muitos, uma percepção de que algo essencial havia sido deixado de lado. O Romantismo, então, surge como uma "ressaca" ou "mal-estar com a modernização" impulsionada por esses princípios, uma busca por reencantar um mundo que parecia ter sido "desencantado" pela lógica fria.
A Crítica ao Racionalismo Iluminista
Uma das principais frentes da reação romântica foi a crítica à supremacia da razão tal como preconizada pelo Iluminismo. Para os românticos, a redução da experiência humana àquilo que podia ser racionalmente explicado e organizado resultava em um "desencantamento do mundo", ignorando aspectos fundamentais da existência.
Eles rejeitaram o que viam como a "tirania da razão" e a abstração racionalista, valorizando intensamente a emoção, a intuição, a imaginação e os aspectos irracionais da experiência. A vida, para eles, era mais complexa e misteriosa do que podia ser apreendido pela lógica pura.
Essa oposição também se manifesta na ideia da separação entre "fato e valor", onde a natureza não é mais vista como a fonte dos valores, permitindo ao indivíduo criar seus próprios. O Romantismo expressa uma resistência ao modo de vida na sociedade capitalista moderna, criticando o pragmatismo e o utilitarismo associados à ascensão da burguesia. Era uma reação contra a quantificação e mecanização do mundo.
A Rejeição às Regras Neoclássicas
O Neoclassicismo buscou a perfeição formal e a imitação disciplinada dos modelos antigos, impondo regras estritas para cada gênero artístico. Os românticos viram nessas regras uma limitação à liberdade criativa e à expressão genuína.
Eles advogaram a espontaneidade, a liberdade formal e a mistura de gêneros. O romance, por exemplo, foi valorizado por sua capacidade de misturar "todas as formas literárias". A ausência de linearidade e a experimentação formal tornaram-se marcas de sua busca por expressar a complexidade da vida.
A crítica romântica via as regras clássicas como obstáculos para o gênio criativo, defendendo que a originalidade muitas vezes surgia da "violação das regras".
O Culto à Subjetividade e Individualidade
Enquanto o ideal clássico buscava representar verdades universais e objetivas, o Romantismo colocou o indivíduo e sua experiência interior no centro da criação. O "eu" individual, com suas emoções, sua imaginação e sua subjetividade, tornou-se a principal fonte de inspiração.
A arte passou a ser vista como um "documento humano", uma confissão, a expressão da verdade interior do artista. A ideia de Bildung – formação ou desenvolvimento integral do indivíduo – ganhou grande importância, ligada à busca por autoconhecimento e aperfeiçoamento.
Essa valorização do "eu" e da experiência subjetiva contrastava diretamente com o ideal de objetividade e universalidade que caracterizou o Iluminismo e o Neoclassicismo.
A Redescoberta do Passado e do Popular
O Iluminismo e o Neoclassicismo, ao focarem na razão e na antiguidade clássica, tenderam a desvalorizar a Idade Média, vista como uma época de "selvageria e superstições". Os românticos, em contrapartida, redescobriram e idealizaram o período medieval.
Eles encontraram no Medievo temas de lendas, cavalaria, fantasia, religiosidade e, crucialmente, as raízes das culturas nacionais e as tradições populares. A revalorização do "gótico" e o interesse pela história nacional e pelos costumes locais tornaram-se elementos centrais do movimento.
Essa volta ao passado, muitas vezes idealizado, era também uma forma de expressar o "mal-estar com a modernização", valorizando um mundo pré-capitalista, pré-industrial, onde os vínculos sociais e a vida talvez fossem percebidos de forma diferente.
Novas Formas e a Arte como Conhecimento
A reação romântica não se limitou ao conteúdo; ela também impulsionou inovações formais. O fragmento, por exemplo, tornou-se uma forma literária privilegiada, refletindo a natureza aberta e em "devir" da poesia romântica, bem como uma crítica aos sistemas fechados.
A arte deixou de ser vista apenas como imitação da realidade (mimesis clássica) ou entretenimento didático (prodesse et delectare). Ela se tornou um caminho para o conhecimento, uma instância formadora, um "medium-de-reflexão" onde o pensamento se desdobra e a arte reflete sobre si mesma (ironia romântica, metareflexão).
A proximidade entre arte e filosofia foi inédita, com a arte assumindo uma missão que ia além do estritamente estético, buscando expressar o infinito no finito.
O Contexto Social e Político
O Romantismo floresceu em um período de grandes convulsões sociais e políticas, como a Revolução Francesa e o início da Revolução Industrial. Essas transformações trouxeram consigo a ascensão da burguesia e um novo cenário social e econômico.
O movimento romântico pode ser interpretado como uma resistência ou crítica a essa nova ordem burguesa e capitalista emergente, com seus valores utilitários, pragmatismo e, para muitos românticos, uma percepção de fragmentação e perda de sentido na vida moderna. Era uma "revolta libertária e literária" contra o "imperialismo da Razão e do Estado".
Alguns românticos, como visto em relação a Wilhelm Meister, expressavam o desconforto do indivíduo sensível e idealista ("espírito romântico") em face do "mundo dos filisteus" (o mundo burguês).
Em suma, o Romantismo surgiu como uma reação poderosa e multifacetada ao Iluminismo e ao Neoclassicismo, que, para os românticos, haviam privilegiado excessivamente a razão, a norma e o universal em detrimento da emoção, da liberdade e do individual. Foi um movimento que questionou os fundamentos da modernidade tal como ela se apresentava.
A reação romântica expressou um desacordo com a realidade percebida como fria, fragmentada e desumana, buscando refúgio e sentido na subjetividade, na imaginação, na revalorização do passado, nas tradições populares e em novas formas de expressão artística. Mais do que uma simples mudança estética, foi uma revolução cultural e de valores, um "mal-estar" criativo que reconfigurou a paisagem intelectual e artística do Ocidente.
Qual aspecto dessa "rebelião" romântica você acha mais fascinante? Compartilhe sua opinião nos comentários!
0 comments:
Postar um comentário