Podemos categorizar os desenhos em duas classes principais: desenhos artísticos e desenhos de valor prático. O desenho artístico encontra seu valor na arte, na beleza ou em fundamentos artísticos, sendo útil para a comunicação (como apresentar um projeto a um cliente) e para a reflexão e criação no desenvolvimento do conceito. Já os desenhos de valor prático, como o nome sugere, têm seu valor em sua função.
Dentro do valor prático, podemos dividir os desenhos em três tipos, de acordo com sua função no processo arquitetônico:
- Desenho de Observação: São desenhos feitos para retratar uma realidade existente que será trabalhada, como um levantamento para uma reforma ou o registro de um detalhe já executado. Podem ser rápidos, sem o auxílio de instrumentos de precisão, mas mantendo as proporções. Geralmente utilizam perspectivas cônicas ou projeções ortogonais e visam registrar o máximo de informações possível para um projeto futuro. Não exigem fidelidade dimensional, apenas proporção, e não precisam se preocupar com normas neste momento.
- Desenho de Concepção: Conhecidos como "croquis" ou projetos preliminares, são os mais livres e variam conforme a prática pessoal do arquiteto. Têm como função principal o desenvolvimento de uma ideia. Possuem alta carga artística e pessoal e não devem focar na apresentação, mas na evolução da ideia.
- Desenho de Comunicação (ou Projetivo): Nesta categoria, encontramos os desenhos que visam à execução de algo, funcionando como "manuais de instrução" para a construção. São feitos em forma de croqui à mão livre, mas atentam a uma linguagem técnica compreensível por todos os profissionais. Requerem rigor dimensional e contam com informações textuais, como dimensões e materiais. Frequentemente utilizam projeções ortogonais e perspectivas isométricas para maior fidelidade dimensional e fácil compreensão. A representação gráfica em arquitetura deve seguir normas técnicas como a NBR 6492.
O projeto arquitetônico em si é o conjunto de desenhos que representa o que se deseja construir, sendo os desenhos o meio de transmissão dessa informação. Os principais tipos de desenhos utilizados em um projeto técnico incluem:
- Plantas Baixas: São a base de todo projeto. Representam um corte horizontal paralelo ao solo, visualizado de cima, mostrando o layout interno, paredes, aberturas (portas e janelas), e elementos como pisos e mudanças de nível. Incluem informações como nome do ambiente, área e pé-direito. As aberturas são representadas como vistas de cima após o corte horizontal.
- Cortes: São projeções verticais que seccionam a edificação para mostrar o interior, incluindo alturas internas, detalhes construtivos e materiais. Podem ser longitudinais (atravessando o eixo principal) ou transversais (atravessando o eixo secundário). Incluem cotas verticais e cotas de nível, indicando o nível acabado (N.A.) e sem acabamento (N.O.) em metros. A hierarquia de traços é crucial para simular profundidade.
- Elevações/Fachadas: Representam as vistas externas da edificação. São projeções verticais perpendiculares ao solo. A norma NBR 6492 utiliza o termo "fachadas" para as vistas externas. Assim como nos cortes, a hierarquia de traços é usada para simular profundidade.
- Planta de Implantação: Mostra a edificação no lote, incluindo limites, afastamentos (recuos), acessos e áreas permeáveis. Para aprovação na prefeitura, deve indicar área ocupada, área permeável e recuos definidos pelas leis municipais.
- Planta de Situação: Localiza o lote dentro da quadra e em relação ao seu entorno.
- Detalhes e Elementos Específicos: Desenhos que se aprofundam em detalhes construtivos específicos ou elementos particulares, como escadas, rampas e coberturas. Elementos como escadas e rampas devem atender às normas de acessibilidade, como a NBR 9050.
Para garantir a clareza e a universalidade do desenho técnico, diversas normas técnicas estabelecem padrões. Por exemplo, a NBR 8403 trata dos tipos de linhas, a NBR 8402 das regras de escrita e a NBR 10126 das cotas (dimensões). Os formatos de papel para desenho técnico (série A) são definidos pela NBR 16752, com regras específicas para margens e dobramento (geralmente para o formato A4 para arquivamento). A hachura, normatizada pela NBR 12298, é utilizada para representar materiais.
Dominar os diferentes tipos de desenhos e as normas associadas é fundamental para que o arquiteto possa comunicar suas ideias de forma precisa e eficaz, transformando o abstrato em concreto e guiando o processo de construção. O desenho é, em essência, a linguagem que permite que o pensamento arquitetônico se materialize.
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