O desenho é, sem dúvida, a principal ferramenta de comunicação do arquiteto. Assim como escritores utilizam palavras, músicos utilizam instrumentos, e físicos utilizam a matemática, o desenho permite ao arquiteto transformar suas ideias em realidade. Seja no plano artístico e conceitual para a construção da ideia, ou no desenho técnico que serve como manual para a construção, a habilidade de desenhar é essencial. Dominar essa linguagem visual é crucial para expressar pensamentos e percepções.
Mas quais são os elementos fundamentais que compõem essa linguagem visual tão poderosa? Vamos explorar os pilares do desenho arquitetônico:
1. Projeções: A Base da Representação Espacial
Um dos maiores desafios do desenho é representar um mundo tridimensional em um plano bidimensional. Para superar isso, utilizamos sistemas pictóricos, que são métodos de representação. No desenho arquitetônico, os mais comuns são as projeções ortogonais, que incluem as plantas, cortes e fachadas. Outros sistemas incluem projeções axonométricas (como a perspectiva isométrica) e perspectivas cônicas.
- Plantas Baixas: São representações de uma vista superior de um plano de corte horizontal, geralmente localizado a aproximadamente 1,50m do piso. Elas mostram as relações espaciais internas, distribuição de cômodos, paredes, portas, janelas e outros elementos no plano horizontal. A NBR 6492 define os requisitos para representação de plantas. Existem variações como a planta de implantação (ou locação), que mostra a edificação no terreno e seu entorno imediato, e a planta de situação, que localiza o lote na quadra ou cidade.
- Cortes: São seções verticais da edificação. Eles revelam as relações entre pisos, paredes, tetos, dimensões verticais e relações espaciais internas. Enquanto a planta mostra largura e comprimento, o corte mostra alturas. O plano de corte vertical pode ser longitudinal (eixo principal, maior dimensão) ou transversal (eixo secundário, menor dimensão). Devem passar pelos elementos arquitetônicos mais relevantes, como aberturas, circulações verticais (escadas, rampas) e mudanças de nível. A NBR 6492 também normatiza a representação de cortes.
- Fachadas/Elevações: São representações gráficas de planos externos (Fachadas) ou internos/elementos específicos (Elevações) da edificação. Permitem visualizar a aparência externa do projeto, incluindo aberturas, elementos de cobertura e a altura total. São construídas a partir de projeções ortogonais verticais.
2. As Linhas: A Estrutura Visual do Desenho
As linhas são os elementos básicos que compõem o desenho arquitetônico. Elas não apenas delimitam formas, mas também carregam informações sobre o que está sendo representado. A hierarquia de traços é fundamental para a organização visual e clareza do desenho.
- A NBR 8403 estabelece os tipos de linhas utilizadas no desenho técnico.
- Linhas Contínuas: Utilizadas para contornos visíveis e linhas internas. Sua espessura varia para diferenciar elementos. Linhas mais próximas do observador ou de materiais mais pesados devem ser mais grossas.
- Linhas Tracejadas: Representam linhas situadas além do plano do desenho, como projeções de pavimentos superiores, marquises ou elementos ocultos.
- Linhas Traço e Ponto: Usadas para linhas de eixo ou coordenadas. Também indicam a linha de corte em plantas.
- Linhas Traço e Dois Pontos: Indicam linhas de projeção importantes.
- Linhas Auxiliares: Incluem linhas de cotas e linhas de chamada. Devem ser sempre finas.
3. Escalas: Reduzindo a Realidade
A escala é a relação dimensional entre a representação de um objeto no desenho e suas dimensões reais. É um elemento crucial para que os objetos grandes caibam no papel e para garantir a precisão dimensional do projeto.
- As escalas são representadas numericamente (ex: 1:50, 1:100, onde 1 unidade no desenho representa 50 ou 100 unidades na realidade).
- Escalas mais comuns variam entre 1:50 e 1:100 para plantas e cortes, mas podem ser maiores para detalhes (ex: 1:10, 1:20) ou menores para representações amplas como implantação ou situação (ex: 1:200, 1:500).
- O escalímetro é a ferramenta utilizada para desenhar em escala.
4. Cotas: Especificando as Dimensões
Cotas são as indicações numéricas das dimensões no desenho. São indispensáveis para a execução precisa da obra, servindo como um "manual de instrução" dimensional.
- Devem ser indicadas em metros para dimensões ≥ 1m e em centímetros para dimensões < 1m, com milímetros como expoentes. A unidade deve ser consistente em todo o desenho.
- A NBR 10126 normatiza a cotagem. As cotas devem ser claras, evitar redundância e estar posicionadas de forma que permitam a leitura a partir da base ou lado direito da folha.
- Incluem cotas lineares (horizontal/vertical) que indicam largura, comprimento e altura, e cotas de nível, que indicam a altura do piso acabado e em osso (sem acabamento) em relação a um ponto de referência.
Outros Elementos Complementares Essenciais
Além dos quatro pilares, outros elementos são vitais para a clareza e completude do projeto:
- Documentação Textual: Anotações, nomes de ambientes, áreas, pé-direito, e notas gerais fornecem informações que não podem ser representadas graficamente. A caligrafia técnica deve ser padronizada.
- Hachuras: Padrões de preenchimento que indicam materiais (em corte ou vista), áreas específicas (construída, permeável), ou padrões de piso/revestimento. A NBR 12298 trata da representação de área de corte.
- Simbologias: Representações padronizadas para diversos elementos como indicação de Norte, setas de corte, indicação de acessos, etc..
- Quadros e Tabelas: Quadros de Esquadrias (dimensões de portas e janelas), Quadros de Áreas (áreas dos ambientes, total construída, permeável, etc.), e Quadros de Acabamentos compilam informações importantes de forma organizada.
- Formatos de Papel e Organização: Os desenhos são apresentados em formatos padronizados da série A (NBR 10068, NBR 16752), com margens e carimbo (legenda com identificação do projeto, escalas, data, autoria). A dobra das cópias segue normas para facilitar arquivamento (redução ao formato A4).
O domínio desses elementos permite ao arquiteto comunicar de forma precisa e inequívoca as ideias e detalhes do projeto para outros profissionais. A prática constante da execução e interpretação de desenhos técnicos é essencial para se tornar um profissional completo na arquitetura.
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