A Umbanda é uma religião brasileira fundada publicamente em 15 de novembro de 1908, no Rio de Janeiro, pelo médium Zélio Fernandino de Moraes e o espírito que se apresentou como Caboclo das Sete Encruzilhadas. Sua fundação atendeu a um clamor de espíritos altamente evoluídos direcionado a Deus para que lhes fosse facultada uma via religiosa afim com suas formações passadas, onde já se dedicavam a amparar e ajudar pessoas vitimadas por magias negativas ou perseguidas por inimigos espirituais. A Umbanda não surgiu por acaso, mas sim por uma ação divina.
A Umbanda é vista como um movimento espiritual muito forte no astral que sempre esteve ativo, por vezes com nomes diferentes. É considerada uma religião que se destina a acolher pessoas cujos magnetismos mentais vibram dentro da faixa vibratória da divindade que a rege, e porque seus fiéis são atraídos pelo magnetismo do mistério que lhe dá sustentação divina. A espiritualidade sustentadora da Umbanda, em seu nível mais elevado, reconhece que diversas escolas e correntes dentro da religião estão certas, pois são formadas por espíritos com diferentes formações religiosas em suas últimas encarnações.
Origens e Fundamentos
A Umbanda é uma religião sincrética, incorporando influências de várias fontes religiosas e culturais. Suas bases de formação incluem cultos afro, cultos nativos (pajelança/xamanismo), doutrina espírita kardecista, e a religião católica. Alguns também mencionam um pouco da religião oriental (budismo e hinduísmo) e da magia. O sincretismo com santos católicos, como a associação de Oxalá com Jesus Cristo, Iemanjá com Nossa Senhora dos Navegantes/Conceição, Ogum com São Jorge, e Xangô com São Gerônimo, já existia nos Candomblés antes da Umbanda e foi adotado por seus fundadores para facilitar a transição religiosa e mitigar a perseguição religiosa da época.
Os fundamentos básicos da Umbanda, identificados nas palavras do Caboclo das Sete Encruzilhadas, incluem que ela é a manifestação do espírito para a prática da caridade, aprender com quem sabe mais, ensinar a quem sabe menos, e não virar as costas para ninguém. O atendimento caritativo é a base doutrinária, sem preconceito em relação às entidades que se manifestam. Outros fundamentos importantes são a música sagrada (pontos cantados), o uso de símbolos riscados (pontos riscados com pemba) para traçar espaços mágicos, abrir vórtices de energia e campos de vibração, o uso de velas, defumação com ervas secas e resinas, manipulação de fumo (charuto, cachimbo), uso de bebidas consagradas, e banhos de ervas.
A Umbanda é monoteísta, crendo em um único Deus, o Divino Criador, que é chamado Olorum ou Olodumaré. Deus está acima dos espíritos e das divindades.
Orixás e Linhas de Trabalho
Não existe Umbanda sem Orixás, e os Orixás estão assentados na natureza. Os Orixás são vistos como qualidades divinas manifestadas por individualizações do Divino Criador, regendo aspectos da natureza, da vida e das criaturas. Eles são poderes indissociáveis de Olorum. A Umbanda tem uma teogonia fundamentada em Olorum e nos Orixás.
As Sete Linhas de Umbanda são um fundamento central. Elas se referem às sete irradiações vivas de Deus, sete energias básicas na criação. Existem mais de sete Orixás, e as sete linhas encontram fundamento nos sete Orixás ancestrais básicos, dos quais ocorrem desdobramentos em polos magnéticos positivo e negativo. Cada linha é regida por um Orixá. As sete linhas são: Cristalina (fé, religiosidade), Mineral (amor, fecundidade), Vegetal (conhecimento, criatividade), Ignea (justiça, racionalidade), Aérea (lei, ordenação), Telúrica-Aquática (razão, forma, evolução), e Aquática (geração, fertilidade, maternidade). Outra descrição das qualidades associadas às linhas é: Fé (Religiosidade, confiança, ascensão), Amor (Afetividade, carinho, comunhão), Conhecimento (Compreensão, estudo, aperfeiçoamento), Justiça (Resignação, obediência, submissão), Lei (Lealdade, ordem, hierarquização), Saber (Fraternidade, doutrina, evolução), e Geração (Vitalidade, amparo, união).
Os Exus e Pombagiras na Umbanda são entidades de trabalho que atuam na "esquerda" da religião. Existem diferentes tipos, como o Exu Natural (correlacionado com o orixá de frente), o Exu de Trabalho (que incorpora e se correlaciona com o orixá ajuntó), e o Exu Guardião (correlacionado com o orixá ancestral e responsável pela proteção do terreiro). Pombagira é o oposto complementar feminino de Exu, responsável pelo esgotamento de carmas e atua magística e religiosamente. O Mistério Pombagira é fundamental e capaz de desagregar o que está unido de forma prejudicial, puxando sobrecargas negativas para abismos elementais.
Práticas e Rituais
A incorporação de espíritos é um fenômeno central na Umbanda. A Umbanda diferenciou a incorporação por meio de manifestações por arquétipos, tornando-a ritualizada e diferenciada do espiritismo tradicional. O médium umbandista é considerado um "templo vivo" no qual os sagrados Orixás e espíritos se manifestam.
A Umbanda é uma religião mágica por excelência, utilizando a magia divina o tempo todo. As entidades usam materiais físicos para manipular energias, realizar quebras de demandas, afastar obsessores e encaminhar sofredores. Os fundamentos da Umbanda não se assentam sobre o oculto, mas simplificam a parte ativa dele, tornando-a popular e eliminando tabus baseados no medo.
Práticas rituais incluem a realização de oferendas e firmezas em pontos de força na natureza ou no terreiro. Uma oferenda é a criação de um campo de trabalho e um portal multidimensional para que forças e poderes assentados na natureza atuem em benefício das pessoas. Os assentamentos são locais com elementos mágicos que criam pontos de proteção, defesa, descarga e irradiação, dando sustentação às ações no centro.
É importante notar as diferenças entre Umbanda e Candomblé. Enquanto ambos cultuam Orixás e são religiões mediúnicas, seus rituais, fundamentos e dinâmicas são distintos. O sacrifício animal e ritos como a "feitura de cabeça" do Candomblé são dispensados na Umbanda. A Umbanda é vista como uma religião de massas, com procedimentos simplificados.
Natureza em Desenvolvimento
A Umbanda não tem verdades inquestionáveis (dogmas) nem assuntos proibidos (tabus). Sua capacidade de assimilação e adaptação de práticas alheias a enriqueceu, e na ausência de dogmatismo, as substituições acontecem naturalmente. A religião valoriza a religiosidade individual e o estudo para melhor compreensão dos ensinamentos e fenômenos mediúnicos.
Em essência, a Umbanda é uma religião dos mistérios de Deus. Tudo nela tem fundamentação divina, e os mistérios se manifestam por meio do simbolismo adotado. A Umbanda se diferencia por sua prática mágica, sua comunicação com os espíritos para a caridade e resolução de problemas, e sua estrutura baseada nas Linhas de Trabalho e nos Orixás, adaptados e reinterpretados dentro de um contexto genuinamente brasileiro. É uma religião aberta a todos os seres humanos em todo o planeta.
0 comments:
Postar um comentário