domingo, 1 de junho de 2025

Análise Marxista de A Mãe (1930), de Máximo Górki

✍️ Autor: Máximo Górki (1868–1936)

Intelectual orgânico da Revolução Russa, Górki foi um dos principais nomes do realismo socialista — corrente estética que articula arte e política, colocando a literatura a serviço da formação da consciência de classe.


📌 Contexto Histórico e Social

O romance é inspirado em acontecimentos reais da Revolução de 1905 na Rússia, quando operários e camponeses começaram a se organizar contra o regime czarista. Górki retrata o ambiente de repressão política, as tensões nas fábricas e o surgimento de células revolucionárias socialistas entre os trabalhadores.

A Mãe é considerada a primeira grande obra do realismo socialista e cumpre uma função formadora: mostrar como a consciência revolucionária pode emergir da experiência concreta de opressão e luta.


📚 Resumo da Trama

Pelágia Nilovna, uma mulher simples, religiosa e submissa, vive com seu filho Pavel, operário de uma fábrica. Pavel se envolve com um grupo socialista clandestino e começa a difundir ideias revolucionárias entre os colegas. Inicialmente temerosa, Pelágia observa a coragem e o idealismo do filho, e, pouco a pouco, abandona sua passividade. Ela passa a distribuir panfletos, proteger companheiros perseguidos e, finalmente, torna-se uma militante consciente, assumindo um papel central na luta de sua classe.


🧠 Análise Marxista

Elemento Interpretação
Pelágia (a mãe) Representa a classe trabalhadora alienada que desperta para a consciência de classe.
Pavel (o filho) Simboliza o operário politizado que atua como organizador e educador revolucionário.
A fábrica Espaço da exploração capitalista, mas também de solidariedade e aprendizado coletivo.
A polícia e o Estado czarista Encarnação da repressão burguesa contra a organização política dos trabalhadores.

💬 Trechos Comentados

🧩 1. A alienação inicial:

“Ela não compreendia as palavras do filho, mas sentia que havia nelas uma dor que não era só dele.”

🔎 Comentário: A alienação é rompida inicialmente pelo afeto. A dor de classe é compartilhada antes mesmo da consciência teórica. É um primeiro passo da subjetividade proletária rumo à politização.


🧩 2. A fábrica como escola da luta:

“Eles trabalham juntos, sofrem juntos. Quando um cai, o outro o levanta. Ali, cada injustiça é como um grito que se espalha.”

🔎 Comentário: A fábrica é apresentada não apenas como espaço de exploração, mas como berço da solidariedade e da consciência coletiva. Lembra a formulação marxista da classe “em si” se tornando classe “para si”.


🧩 3. O despertar revolucionário:

“Ela já não chorava. Agora, lia os panfletos que ajudava a distribuir.”

🔎 Comentário: Aqui ocorre o salto subjetivo: do sofrimento passivo à ação consciente. A figura materna se politiza e se une à luta do coletivo, superando o instinto individual e assumindo o destino do povo.


🧩 4. A figura da mãe como símbolo:

“Sou apenas uma mãe, mas levo comigo todas as mães que não querem ver seus filhos humilhados.”

🔎 Comentário: A mãe torna-se símbolo universal da mulher proletária. Sua identidade individual se dissolve na consciência de classe. Ela representa a transformação do amor privado em solidariedade política.


🎯 Conclusão Crítica

A Mãe não é apenas um romance: é uma narrativa de formação revolucionária. Pelágia, uma figura inicialmente passiva, torna-se agente da história — um símbolo poderoso da possibilidade de superação da alienação.

A obra realiza plenamente o ideal do realismo socialista: a literatura como ferramenta de elevação da consciência de classe, denúncia da exploração e afirmação da capacidade revolucionária do proletariado.

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